Já podemos afirmar, com uma certa tranquilidade, que não há mais como pensar em processos educacionais sem considerar a dimensão tecnológica. Nessa relação, a grande novidade é que o
modelo de educação 4.0, desenvolvido nos últimos anos, está dando lugar a uma proposta ainda
mais dinâmica: a Educação 5.0, que caminha lado a lado com as possibilidades trazidas pelo ideal
da Sociedade 5.0.
Muitos termos novos, certo? Mas calma: vamos voltar um pouco e explicar melhor cada um destes conceitos.
A Educação 4.0
A educação 4.0 começou a se desenvolver no contexto da Sociedade 4.0, também conhecida como Sociedade Digital ou Informacional. Esse modelo de organização social teve como marcos iniciais a invenção e a popularização dos computadores pessoais e a distribuição de notícias e informações de forma cada vez mais acelerada, sobretudo com a onda de globalização na década de 1990 e o avanço nas telecomunicações.
É bom termos em mente que a Sociedade 4.0 está inserida em um marco histórico e teve como predecessoras:
- a Sociedade 1.0, a da caça e da coleta, nos primórdios da civilização;
- a Sociedade 2.0, de caráter agrário, quando os humanos começaram a se estabelecer em locais fixos e as primeiras técnicas de irrigação foram desenvolvidas;
- e, finalmente, a Sociedade 3.0, com a Revolução Industrial e a utilização em larga escala das máquinas a vapor.
Nos últimos 20 anos, a educação 4.0 evoluiu junto com a tecnologia – podemos pensar na robótica, na inteligência artificial (IA ou AI, na sigla em inglês artificial intelligence), nas impressoras 3D, na realidade virtual/realidade aumentada, e na internet das coisas, também conhecida como IoT.
Tendo em vista tantos avanços, as escolas passaram a enfatizar uma rota de aprendizado que favorecia a capacidade de lidar com essas novas tecnologias – afinal, a geração atual, que está na sala de aula, é formada completamente por nativos digitais, que já nasceram num mundo “banda larga”.
Aliás, uma grande característica da educação 4.0 é que ela privilegia as hard skills, aquelas habilidades mais técnicas e “práticas”, como o raciocínio lógico, o domínio de outros idiomas e a aptidão para fazer um cálculo matemático. Vamos abordar as hard skills um pouco mais adiante.
A Educação 5.0
Mas e a educação 5.0? Para começar a falar dela, primeiro precisamos explicar como ela nasce: no modelo de Sociedade 5.0, proposto pela Federação das Indústrias do Japão (Keidanren) em meados dos anos 2010.
A Keidanren chegou à proposta da Sociedade 5.0 – também chamada de Super Smart Society, ou a Sociedade Super Inteligente, numa tradução literal – após fazer inúmeras pesquisas em colaboração com universidades japonesas e instituições governamentais. Nesse processo, também foram realizadas experiências com laboratórios de ideação utilizando o design inteligente focado no aspecto humano.
Essa sociedade se insere na chamada Quarta Revolução Industrial. Numa Sociedade Super Inteligente, todas as novidades tecnológicas que já mencionamos – a IoT, a realidade virtual e a robótica – são utilizadas em prol do nosso desenvolvimento, não ao contrário.
A proposta é utilizar a tecnologia a nosso favor, considerando, sobretudo, o aspecto humano. É precisamente nesse contexto que a educação 5.0 se diferencia da sua antecessora, já que abrange o escopo das habilidades trabalhadas na aprendizagem. Continue lendo para saber mais!
Como a educação 5.0 melhora a aprendizagem?
A educação 5.0 pega os melhores aspectos da educação 4.0 – com as infinitas possibilidades que as novas tecnologias trazem – e aprimora as dinâmicas de interação em sala de aula.
Nesse novo formato, o ensino STEAM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharias, Artes e Matemática) é elevado a um novo patamar com a valorização das soft skills, habilidades interpessoais e socioemocionais que levam em conta a formação integral do indivíduo. Alguns exemplos de soft skills são:
- exercitar a escuta ativa;
- comunicar-se com clareza;
- colaborar e trabalhar bem em grupo;
- ter autonomia para se adaptar a situações adversas;
- ser sociável e demostrar capacidade de exercer protagonismo;
- ter empatia e autocontrole, demostrando inteligência emocional.
Para o economista James Heckman, ganhador do prêmio Nobel em 2000, as soft skills devem ter papel de destaque, podendo ser trabalhadas e melhoradas com o intuito de dar as bases para o aprendizado futuro no ensino superior.
No modelo de educação 5.0, o foco é a união entre as soft skills e as hard skills. Geralmente, as hard skills são aquelas que podem ser comprovadas por meio de diplomas e certificações, enquanto as soft skills pertencem a um campo mais subjetivo e, por isso, mais complexo de ser quantificado, já que têm a ver com a percepção dos indivíduos quando estão inseridos em grupos.
Podemos dizer que a educação 5.0 é uma evolução da 4.0, já que entende que a familiaridade com a tecnologia é cada vez mais essencial na vida cotidiana, mas que também é necessário compreender o impacto da tecnologia no cérebro humano. Além disso, esse modelo tem como objetivo desenvolver o “diálogo” entre tecnologia e sociabilidade.
Dessa forma, estimular as soft skills levando em consideração o domínio das hard skills num cenário altamente tecnológico é o que a educação 5.0 propõe.
Alguns exemplos são: como utilizar recursos computacionais para estimular o trabalho em equipe entre os alunos? Como empregar ferramentas digitais para encorajar, desde cedo, a capacidade de liderança de uma criança em pleno processo de formação?
Esses são alguns dos cernes – e dos desafios – que a educação 5.0 traz não só para os educadores, como também para os gestores de escolas e as famílias. Mas para ter uma noção ainda maior do propósito desse novo modelo, é preciso entender como ele está intrinsecamente ligado à visão de mundo que a Sociedade 5.0 nos desafia a imaginar e a colocar em prática.
Um modelo de educação alinhado à sociedade
Ao propor a Sociedade 5.0, especialistas japoneses levaram em conta e foram influenciados fortemente pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os ODS foram sugeridos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para unir seus países membros num Pacto Global que visa cumprir a Agenda 2030 – uma série de metas a serem alcançadas nos próximos anos com o objetivo de que o planeta seja mais sustentável num aspecto integral.
Os 17 ODS propostos pela ONU buscam:
- Erradicar a pobreza;
- Acabar com a fome, incentivando a agricultura sustentável;
- Assegurar uma vida saudável e o bem-estar geral;
- Promover o acesso a uma educação de qualidade;
- Alcançar a igualdade de gênero;
- Assegurar o acesso ao saneamento básico e à água potável;
- Garantir o acesso à energia limpa a todos;
- Promover o crescimento econômico, gerando trabalho em condições decentes;
- Construir uma indústria inovadora;
- Reduzir as desigualdades entre os países;
- Tornar as cidades mais seguras e sustentáveis;
- Incentivar o consumo responsável;
- Agir contra as mudanças climáticas;
- Preservar a vida marítima;
- Proteger toda vida terrestre e seus ecossistemas;
- Promover a paz e a justiça entre as nações;
- Fortalecer a implementação dos ODS e estimular parcerias.
Metas ambiciosas, certo? Não para os japoneses, que vivem num país com um dos mais altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Acreditando na possibilidade de atingir a maioria das 17 metas, o Japão pauta a Sociedade 5.0 por meio da transformação digital, entendendo-a como aliada na busca da felicidade e da redução das desigualdades (este último, não por coincidência, é o 10º ODS).
Entendemos desigualdades como sendo tanto sociais quanto econômicas, e é justamente aqui que a educação 5.0 entra. A aposta é preparar os nativos digitais para serem os líderes do futuro, e essa aposta não pode vir baseada somente no domínio técnico das tecnologias (sim, as hard skills que mencionamos antes).
O incentivo à ciência é a base da inovação e do desenvolvimento industrial de um país, mas a inovação deve considerar os problemas enfrentados por todas as camadas sociais e respeitar as diversas identidades humanas. E, conforme pauta a Sociedade 5.0, os alunos precisam ser preparados para lidarem com esses desafios.
Tudo o que discutimos até aqui só reforça a importância da educação 5.0 e de se levar em conta as soft skills na preparação dos currículos escolares.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Brasil, inclusive, coloca as competências socioemocionais no centro e à frente das diretrizes estabelecidas em seu plano mais recente. Mas… como ficam as escolas nesse cenário?
Qual o papel da escola na educação 5.0?
As instituições escolares têm um papel central no fomento da educação 5.0 – agora mais do que nunca, com os desafios impostos pela pandemia da COVID-19 na rotina diária. Ensino híbrido, ensino remoto e educação a distância (EaD) nunca estiveram tão em pauta quanto nos últimos meses.
A escola teve que se adaptar rapidamente e encarar os obstáculos advindos desse cenário e, para isso, a tecnologia esteve (e está) a serviço dos educadores. Contudo, como argumentamos ao longo do texto, o pleno domínio da tecnologia precisa caminhar junto ao aspecto humano.
Nessa combinação, o professor passa a ser o mentor do aluno, estimulando-o continuamente para que as hard e as soft skills sejam desenvolvidas num fluxo contínuo, levando em conta também as particularidades de cada criança e adolescente.
Para isso, o apoio da direção e o contato com a família são fundamentais. E é com essa perspectiva que passamos para o próximo ponto.
Como preparar sua instituição para esta realidade?
Já deu para perceber que a educação 5.0 veio para ficar, mas não sem desafios. Para que a sua instituição esteja realmente em sincronia com esse novo modelo, elencamos quatro fatores essenciais para o sucesso:
- Ter como princípio orientador a importância da tecnologia na educação. Para isso, é necessário atentar-se às novidades e às atualizações nas ferramentas tecnológicas disponíveis no mercado.
- Promover a capacitação constante do corpo docente. Os professores e as professoras precisam de treinamento adequado para lidar com todas as mudanças e as novas tecnologias, e é dever da escola dar esse suporte para que os profissionais possam exercer suas funções de mentores – afinal, são eles que vão incentivar o desenvolvimento das competências socioemocionais dos alunos.
- Estimular o engajamento das famílias em todo esse percurso. A pandemia levou uma parcela considerável da força de trabalho ao home office, misturando a vida profissional com a pessoal. Nesse cenário, é essencial que haja um diálogo constante entre pais, professores e diretores para entender a realidade em que cada aluno está inserido e, assim, traçar planos de estudo que combinem tecnologia e desenvolvimento humano.
- Fomentar boas relações entre as famílias, o corpo docente e os diretores. Esse item tem ligação direta com o anterior. Com uma comunicação constante, que pode ser padronizada por meio de aplicativos de gestão escolar, cada figura que compõe a vida do aluno (pais, mestres, direção) estará alinhada para atender melhor às necessidades da criança e do adolescente, além de trabalhar em conjunto para o êxito no processo de formação.
Por fim, para você se inspirar, separamos alguns exemplos de instituições e de pessoas educadoras que estão se destacando nessa nova realidade 5.0. Confira:
- Perestroika, escola de metodologias criativas, que oferece uma gama de cursos voltados para o aprimoramento das soft skills.
- Natália de Nadai, formada em Física, Matemática e Pedagogia, é criadora de conteúdo de Matemática para a Khan Academy, uma das maiores plataformas de ensino remoto no mundo.
Gostou de aprender sobre como a educação 5.0 está revolucionando a sala de aula? Continue nos acompanhando para saber mais!